Dados, Dados e mais Dados...


Digamos que eu queira entender como a temperatura de um determinado cômodo varia ao longo do dia, a cada minuto, pelo período de um ano. Vou precisar coletar dados. Dados são pedaços de informações que retratam um estado ou valor em um determinado momento. Então, a temperatura informada pelo sensor que coloquei no cômodo é um dado e se refere apenas ao momento da leitura.

E podemos coletar estes dados ao longo do tempo. Podemos registrar a temperatura informada minuto a minuto durante todos os dias de um ano. Antigamente, alguém tinha que anotar estes dados em uma folha. Era um processo entediante, caro e impreciso. Aí alguém inventou um sistema que fazia um gráfico em um rolo de papel de temperatura. Mas aí tínhamos uma linha desenhada e não os dados que eu queria. Alguém ainda tinha que olhar para o gráfico e achar o valor a cada minuto e passá-lo para uma tabela.

Finalmente inventaram sistemas que faziam tudo isso automaticamente. A cada minuto um equipamento lia a temperatura indicada pelo sensor e coloca essa informação numa tabela. Maravilha! Tenho os dados. E agora?

Objetivo inicial: entender como a temperatura varia. Para que? Para muitas coisas, como prever como será a temperatura no dia seguinte, entender quais os meses mais quentes e os mais frios, saber a variação ao longo do dia...

Então eu preciso analisar os dados. Aqui, vamos queimar etapas e supor que eu entenda de tratamento de dados, estatística, física e algoritmos de análise e finalmente atingi meu objetivo. Eu entendo como tudo aconteceu no ano passado. Sei os dias que tiveram a maior temperatura, sei que no inverno é que há maior variação entre o momento mais frio e mais quente do dia, etc.

Mas minha análise também poderia me mostrar que os dados que obtive não apresentam comportamento analisável, os erros e desvios em cima dos modelos que consegui obter eram muito grandes. Ou seja, tenho os dados, fiz a análise com as melhores ferramentas e sei que nada aprendi.

O que posso concluir? Que a variação da temperatura é imprevisível? Ou que não tenho dados suficientes?

Se a primeira hipótese estiver correta, mudo de assunto e vou fazer outra coisa. Mas e se for a segunda? Que outros dados não tenho? Já sei: esqueci de verificar quantas pessoas tinha na sala a cada minuto, se a janela estava aberta ou fechada, se o dia estava ensolarado... minha experiência diz que tudo isso pode influenciar no comportamento da temperatura.

Então, passo mais um ano coletando dados. Tudo bem, já tenho a tecnologia para fazer isso para mim. Tenho sensores de janela aberta, tenho contadores de pessoas e posso até medir a luminosidade e dizer se está fazendo sol ou se está nublado.

Agora sim, tenho todos os dados e vamos supor que tenha as ferramentas para analisar tudo isso. E finalmente, chego a um modelo que pode me dizer a temperatura a qualquer dia do ano. se estiver nublado, com a janela fechada, três pessoas na sala às 14:00.

Simples, não? Mas será que se eu coletasse os dados por dois anos, teria um modelo melhor ou diferente. Já sei. Começo a usar este modelo, mas continuo coletando dados e periodicamente atualizo este modelo com as novas informações...

Isso tudo para falarmos da Internet da Coisas (IoT), ou pelo menos de um pedaço dela.

Uma das coisas que a IoT traz é termos uma infinidade de coisas prontas para mandar um monte de dados para algum lugar. Essas coisas, ou objetos, terão capacidade para se comunicar espontaneamente pela internet e terão sensores de tudo que é tipo embutidos. A sua campainha IoT, além de lhe informar que alguém a apertou, aproveita e fica dizendo para a internet a temperatura que ela está medindo. Sua TV IoT vai informar à internet o canal que você está assistindo. O seu aparelho de ar condicionado vai informar a temperatura que você gosta.

Essas informações todas são coletadas e agrupadas, sempre protegendo sua privacidade. Mas serão usadas por poderosos algoritmos que analisarão essas informações e conseguirão fazer previsões que lhe sejam úteis. Imagine, por exemplo, que boa parte de sua cidade usa campainhas IoT. Isso significa que é possível fazer um mapa das temperaturas em praticamente todos os locais em tempo real. Depois de algum tempo de coleta de dados, digamos um ano, o sistema terá informações suficientes para prever o que vai acontecer com a temperatura da sua casa na próxima hora baseado nas temperaturas dos demais moradores. E, como o seu ar condicionado também é IoT, ele será informado de que pode diminuir a intensidade com que está trabalhando porque a temperatura vai cair daqui a uns minutos, gerando economia de energia.

Este é só um exemplo bem simples. Um outro exemplo é imaginar que todos os automóveis sejam IoT e que saibam para onde vão, ou seja, você vai informar o destino antes de começar a viajar.  Com as informações de todos os carros, este poderoso algoritmo pode, entre outras coisas, prever o trânsito, seus gargalos e alternativas de rota. Algo em muito menor escala já existe quando com aplicativos como o Waze, mas estes aplicativos não são capazes de prever e gerenciar rotas, apenas lhe dá informações sobre a condição atual do trânsito. A solução IoT vai poder tanto prever como gerenciar em tempo real o que está acontecendo. Se este sistema estiver também se comunicando com as centrais de trânsito de sua cidade, as temporizações dos semáforos e outros meios de controle de fluxo serão comandados para minimizar os efeitos. E as centrais de trânsito saberão, em tempo real, se está dando certo ou se precisam mudar suas estratégias.

Estes exemplos mostram uma das muitas faces da IoT. Em resumo, temos os seguintes participantes:

·       Órgãos e empresas definindo padronizações de comunicação, protocolos e formatos para que os dados possam ser usados.

·       Fabricantes de equipamentos colocando IoT em seus produtos, mesmo que não seja para benefício direto.

·       Gigantes do mercado coletando estes dados e desenvolvendo algoritmos de análise para que gerem informações úteis.

·       Prestadores de serviço disponibilizando internet em praticamente todos os lugares para a coleta de dados.

·       Pequenas empresas desenvolvendo aplicações específicas para uso destes dados, desenvolvendo seus algoritmos, e oferecendo os serviços ao mercado.

·       Você, comprando equipamentos com IoT, deixando que eles enviem informações e aproveitando os benefícios.

Sugiro que você acompanhe o desenvolvimento deste assunto nas várias mídias e se preocupe com três coisas: busque as aplicações que podem lhe ser úteis; acompanhe as discussões sobre privacidade; e queira que tudo isso lhe seja oferecido a custo muito baixo.

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